terça-feira, 10 de novembro de 2009

CENTRO DE RECUPERAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS CIDADE VIVA









LEGENDA | LEGEND

01 – ACESSO PRINCIPAL | MAIN ACCESS

02 – ACESSO AUDITÓRIO | ACCESS AUDITORIUM

03 – HALL DE ENTRADA | FOYER

04 – SALA DE ESPERA | WAITING ROOM

05 – ARQUIVO | ARCHIVE

06 – RECEPÇÃO | RECEPTION ROOM

07 – CONSULTÓRIO | DOCTOR’S OFFICE

08 – BANHEIRO | BATHROOM

09 – TESOURARIA | MANAGEMENT

10 – SECRETARIA | SECRETARIAT

11 – CIRCULAÇÃO | MOVEMENT AREA

12 – SALA DE MONITORES | HALL MONITORS

13 – DIRETORIA | DIRECTORS

14 – SALA DE REUNIÕES | BOARDROOM

15 – COORDENAÇÃO | COORDINATION

16 – HALL | HALL

17 – AUDITÓRIO (100 PESSOAS) | AUDITORIUM (100 PEOPLE)

18 – JARDIM | GARDEN

19 – CAIXA D’ÁGUA | WATER BOX

20 – JOGOS & VIVÊNCIA | GAME & AREA OF EXPERIENCE

21 – SUÍTE | SUITE

22 – SALA DE ESTAR | LIVINGROOM

23 – DORMITÓRIO | BEDROOM

24 – ENFERMARIA | INFIRMARY

25 – PRAÇA | SQUARE

26 – REFEITÓRIO | CAFETERIA

27 – COZINHA | KITCHEN

28 – LAVAGEM | WASHING

29 – PANIFICAÇÃO | BAKERY

30 – RECEPÇÃO | RECEIPT

31 – CÂMARA FRIGORÍFICA | COLD CHAMBER

32 – DESPENSA | STOREROOM

33 – LAVANDERIA | LAUNDRY

34 – DORMITÓRIO FUNCIONÁRIOS | BEDROOM STAFF

35 – DEPÓSITO | DEPOSIT

36 – SALA DE AULA | CLASSROOM

37 – SALA DE MÚSICA | MUSIC ROOM

38 – SALA DE SOM | ROOM SOUND

39 – ANTE CÂMARA | ANTE CHAMBER

40 OFICINA DE ARTES | STUDIO ARTS

41 – OFICINA DE MARCENARIA | CARPENTRY WORKSHOP
















MEMORIAL

PROJETO DO CENTRO DE RECUPERAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS

O projeto, implantado em uma área agrícola, contempla os princípios de uma missão evangélica que atua na recuperação de dependentes químicos, cujo tema é ”Liberdade com Responsabilidade”.

O partido objetivou o caráter da missão, em uma edificação ampliável, aberta em três níveis conectados por passarelas rampas, utilizando tecnologias locais sustentáveis, criando generosas áreas sombreadas sobre o eixo norte sul, dispostas a partir de vãos centrais abertos, gerando espaços favorecidos pela ventilação. Os desníveis do terreno foram absorvidos por uma implantação escalonada, proporcionando liberdade de ampliação. A adoção de elementos e materiais da arquitetura nordestina confere identidade arquitetural ao conjunto.



MEMORIAL

ARCHITECTURAL DESIGN FOR DEPENDENT CHEMICAL RECOVERY CENTER

The project, implemented in an agricultural area, covers the principles of an evangelical mission that acts in recovering addicted, whose theme is "freedom with responsibility".

The architectural planning incorporated the Mission's character installed in a expander building, opened in three levels connected by walkways ramps, using local sustainable technologies, creating generous shaded areas on the north-south axis arranged from vain open central, generating spaces favoured by ventilation. Terrain disparities were absorbed by a phased deployment, delivering freedom of magnification. The adoption of architectural elements and northeastern materials gives architectural identity to the set.






PROJETO CENTRO DE RECUPERAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS
ARQUITETURA ANTÔNIO CLÁUDIO MASSA E KLEIMER MARTINS
CLIENTE FUNDAÇÃO CIDADE VIVA
LOCAL BR 101 - KM 07 . CONDE PB
ANO PROJETO 2006

ANO OBRA EM CONSTRUÇÃO
ÁREA DE CONSTRUÇÃO 1.465m²
IMAGENS 3D VANESSA WANDERLEY
DESENHO A MÃO ANTÔNIO CLÁUDIO MASSA



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A ARQUITETURA COMO DOCUMENTO DE UMA ÉPOCA

Quando pensamos em documento nos vêm à mente papéis, carimbos, selos, assinaturas. Mas documentar é provar através de documentos, de testemunhos, de objetos ou fatos que sirvam de prova. Neste sentido a arquitetura se apresenta como documento da história ao trazer consigo as marcas dos hábitos da cultura de um povo ou de uma época. A partir desta perspectiva documental, este trabalho situa a arquitetura como tradução de uma época. Quem, diante da Notre Dame de Paris, edifício construído ao longo de séculos, não imaginou quantas vidas passaram por ali: batizados, casamentos, orações, refúgios, perseguições. Desde que sua construção foi iniciada, quantos trabalharam nela? Depois de finalizada, quantos não a visitaram? Fato é que a arquitetura, entendida como resultado concreto da criação humana, é ao mesmo tempo agente e testemunha da história, traduzindo-se em documento que guarda as marcas do tempo, de uma época, e as transmite para a posterioridade.


Panteão (Roma - Itália)


Coliseu (Roma - Itália)


Arco do Triunfo (Paris - França)


Catedral de Notre-Dame (Paris - França)



A arquitetura como documento de uma época



Adriana Cláudia de Sousa Costa


Este artigo se propõe a apresentar uma visão da arquitetura como objeto produzido pela ação e pela imaginação humana e que carrega em si registros e marcas da maneira de viver característica de determinada época. Deste modo, com base na definição traçada pelo arquiteto Adson Lima (2006) em Um ensaio sobre a dimensão ontológica do ato de habitar, o objeto arquitetônico, entendido aqui como um espaço interior vazio destinado a ser preenchido de acordo com a função para a qual foi construído, revela-se como documento na medida em que preserva as marcas de um tempo, de uma época.


1. O objeto arquitetônico como vestígio da história


Quando pensamos em documento nos vêm à mente papéis, carimbos, selos, assinaturas, pois documentar é provar através de informações, de testemunhos, de objetos ou fatos que sirvam de prova. Neste sentido, se considerarmos que o trabalho de análise e crítica de arquitetura é realizado a partir de um objeto arquitetônico, de modo contrário ao historiador e ao crítico literário, que se baseiam em reproduções e documentos, no espaço da biblioteca ou no arquivo” (Montaner, 2004, p. 13, tradução nossa) podemos considerá-lo como documento da história ao trazer consigo as marcas do habitus e da cultura de um povo em determinada época. A arquitetura deixa de ser somente objeto arquitetônico para se insurgir também como objeto histórico, assemelhando-se ao fóssil arqueológico ou aos manuscritos literários, registros originais não apenas da vida humana, mas do como o homem vivia.

Retomando a afirmação de Lima (2006) de que a arquitetura é um espaço oco que adquire sentido quando preenchido e destinado a exercer uma função, tomemos a habitação como exemplo de objeto arquitetônico multidisciplinar, que abrange não apenas o morar, mas também a convivência e as emoções familiares, traduzindo-se em documento no qual estão impressas as suas memórias. Neste caso consideramos a memória em escala reduzida, particular e até certo ponto individual, aludindo ao que o filósofo francês Gaston Bachelard[i] afirma em seu livro A poética do espaço:

Logicamente, é graças à casa que um grande número de nossas lembranças estão guardadas; e quando a casa se complica um pouco, quando tem um porão e um sótão, cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgio cada vez mais bem caracterizados.

E mais adiante:

Por vezes acreditamos conhecer-nos no tempo, ao passo que se conhece apenas uma série de fixações nos espaços da estabilidade do ser, de um ser que não quer passar no tempo; que no próprio passado, quando sai em busca do tempo perdido, quer "suspender" o vôo do tempo. Em seus mil alvéolos, o espaço retém o tempo comprimido. É essa a função do espaço.

Bachelard se refere às lembranças que cada um traz de sua história particular, associando a arquitetura como espaço à produção de uma memória. Ora, a memória arquitetônica serve a transmitir e justificar, através do objeto arquitetônico, a maneira de viver, o habitus dominante em uma época que, de acordo com Lima (2006), determina o ser da arquitetura. Em uma reflexão sobre uma frase do arquiteto americano Louis Khan "na natureza do espaço estão o espírito e a vontade de existir de uma certa maneira", Lima afirma que é na função do espaço que reside o ser da arquitetura, assim habitar um certo espaço de uma certa maneira é realizar esse ser da arquitetura.

Deste modo, ao ampliar esta escala para a dimensão histórica, não poderíamos nós também relacionar as diversas habitações de diversos lugares e épocas, submetidas às condições próprias de cada local e tempo, aos seus costumes e à sua cultura? Não seria a habitação uma testemunha tanto da história particular dos que nela viveram quanto da época e das condições em que viveram por se tratar de um objeto que mimetiza estes fatores?

Mas ao ajustarmos esta escala para a dimensão da cidade, espaço comunitário agregador de microcomunidaes, a casa (e seus habitantes) passa a ser uma de suas componentes. Assim, tomamos o espaço urbano, entendido ao mesmo tempo como exterior às edificações e elo entre elas, como detentor das memórias que são simultaneamente individuais e coletivas. É na cidade que os edifícios se configuram como testemunhas e por que não dizer, como personagens de acontecimentos que se conformam na história. Reflitamos sobre o edifício da igreja Notre Dame de Paris. Edifício construído ao longo de séculos, abrigou inúmeros eventos religiosos, testemunhou guerras, perseguições, epidemias, fomes. Desde que sua construção foi iniciada, quantos trabalharam nela? Depois de finalizada, quantos não a visitaram? Europeus, americanos, indianos, japoneses, chineses? Cristãos católicos, ateus, céticos; admiradores da arte, da arquitetura ou simplesmente curiosos, todos em busca do que uma edificação pode traduzir daqueles que já passaram por ela, seja para construí-la ou para admirá-la.


2. A arquitetura agente e testemunha da história


Fato é que a arquitetura, ou o objeto arquitetônico, apresenta-se ao mesmo tempo como agente e como testemunha da história. Agente por estar presente no cotidiano do homem servindo-lhe de abrigo para suas atividades de moradia, trabalho, lazer ou culto desde bem antes do advento das grandes cidades. Testemunha, pois já na antiguidade os edifícios eram espectadores da vivência humana. Ao longo dos tempos o homem, ao construir seu local de culto ou mesmo seu abrigo construía também um registro de sua cultura, tecnologia, religião e poder. Podemos deduzir o tipo de culto do povo em certa época através da observação da disposição dos espaços que constituem um templo. Obviamente esse dado não é autossuficiente e não constitui prova absoluta do como eram realizados os cultos, mas pode contribuir como documento, como herança histórica, constituinte da memória de um lugar, de um povo, revelando indícios de seus costumes.

Podemos retorquir ainda que o objeto arquitetônico seja ainda, e talvez muito mais, um testemunho, um registro da arte desenvolvida em um tempo, arte que traduz os anseios de um povo, seus pensamentos, suas crenças, suas filosofias. Retomemos o exemplo da Notre Dame de Paris. Construída entre os séculos XII e XIV, toda a edificação converge para a representação do pensamento religioso, político, econômico e tecnológico de seu tempo. A estética gótica sob a qual foi idealizada e erguida no decorrer de quase 3 séculos é um testemunho de tudo isso. Os arcos ogivais, além de representarem inovação construtiva em relação ao arco abatido muito difundido anteriormente, têm também uma implicação estética que remete à religião. Pretendia-se, com a utilização destes arcos, que permitiam que as edificações alcançassem alturas gigantescas, dar àqueles que ali entrassem a impressão de serem minúsculos diante da grandeza de Deus. Os vitrais que preenchiam os arcos das paredes voltadas para o exterior tinham papel didático por representarem cenas bíblicas. As figuras esculpidas nas fachadas seguiam raciocínio idêntico.

Todavia, é no âmbito das cidades que encontramos um terceiro fator de referência para a esta análise. O espaço, ou o traçado urbano, constitui, analogamente à edificação, um objeto arquitetônico. Mas neste caso o espaço vazio a ser preenchido é exterior, as funções são diversas: circulação, lazer, convivência. Entre estas e tantas outras atribuições, o espaço urbano é, tanto quanto a edificação, representativo da tecnologia, do poder e do pensamento vigente em certo período de tempo. Ao analisarmos o traçado de uma cidade medieval européia em relação ao de uma cidade moderna, observaremos que neles estão expressos implicitamente a maneira como se dava a circulação de pessoas e mercadorias, os veículos utilizados para este fim, as tecnologias urbanísticas; do mesmo modo perceberemos, nos espaços destinados à convivência e ao lazer, o modo de vida de seus habitantes. Assim, podemos deduzir, com base na análise que Lima (2006) faz do texto de Bachelard, que o espaço urbano retém o tempo, guarda suas marcas na memória que será transmitida para a posteridade.

Neste artigo delimitamos três elementos para a formação de uma visão da arquitetura como documento de uma época. A casa, lugar do convívio familiar, detentora das memórias individuais; a igreja, ambiente comunitário destinado ao culto e o espaço urbano, local onde coexistem o individual e o comunitário. Em maior ou menor escala, cada um destes elementos é detentor de memórias, é testemunha e testemunho da história, traduzindo-se em documento que guarda as marcas de um tempo e as transmite para a posteridade.


Referências

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução: Antonio de Padua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

LIMA, A.C.B.R. 2007. Habitare habitus - um estudo sobre a dimensão ontológica do ato de habitar. Arquitextos. Acessado em: 12/07/2009, disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp450.asp.

MONTANER, J.M. Arquitectura y crítica. Barcelona, Gustavo Gili, 2004.




TEXTO ADRIANA CLÁUDIA
DATA JULHO 2009

FOTOS KLEIMER MARTINS
DATA SETEMBRO 2009